domingo, 16 de setembro de 2007

Poema da Claridade (de Alma Welt)


Capa do Poema da Claridade publicado em forma de folheto pelas Edições do Pavão Misterioso.

Poema da Claridade

Clara, clara, clara
como champanhe
borbulhante do teu riso
nas ardentes noites do verão passado
Claro como o corpo nu
teu espaço claro de emoção
lágrima clara de legítima dor
de amor e de saudade plena
Clara, clara, clara,clara
como uma aurora
aquela da tua confissão maior
da tua entrega
e fantasia
Clara manhã
afinal retornada
puro lapso da língua
no jogo das palavras
quando o coração
cansado de oprimir
laceia, cede e sobe
claro, claro,claro,claro como aquele
dia, aquela noite e sua euforia
inesquecível
como o traço perfeito
de um desenho perdido
lembrado sempre e sempre
como a tez
como o sorriso franco
nunca dúbio
dos dias felizes
Claro, claro como amantes
por instantes
que nada pediram
Aquela ninfa
aquela outra negra e viva
como uma rainha
de sua própria e clara noite
claro amor
clara intenção de amor
que deita sementes
aos pés da amada
clara, clara, clara,
dívida de alegria
fonte do
claro reconhecimento
tua poesia
das noites claras como um ré
um mi
um lá
sem hesitação
escolhida nota na canção
de tua boca clara
onde o carmim
o sangue
não tenham fim nem começo
como a alma
plena sobre o dia
sobre a noite
como uma espiga
de puro trigo
clara em teu ventre
alta madrugada clara
de paixão
quando não foste
e tendo ficado
deste-te inteira
e sem reservas
Clara, clara,clara
a vida que me retribuíste
quando te salvei
de um sonho mau
e puseste teu braço ao meu redor
naquela ardência clara
que ainda vejo
e reconheço
primeira e clara comunhão

Longe canta o pássaro
a clara nota
que me faltava
Clara, clara, clara inspiração
fugaz
claro instrumento que produz
um anjo
uma canção
o desenho
o poema claro
de nobre intuição insuspeita
como um sonho
como a vida que escolhi
das minhas veias
manhã de renovação
noite clara de redenção
erótica, clara
como o sangue e o esperma
sobre a sagrada cama
do assumido amor
do assumido veio
de um desejo incontido e claro
Clara, clara, clara,
missão do artista
certeza nunca desmentida
sem perguntas
sem medo, sem
a triste e feroz autocrítica

Lanço os dados
do destino,colho
as espigas trêmulas da alegria
onde outros talvez
hesitem
na angústia e medo
incompreensível

Clara, clara, clara harmonia
de um destino aceito
de uma carta
recebida
contendo a resposta
à clara pergunta
formulada alhures
noutra parte da vida

Amor, gozo, engenho de viver
pura criação
escolha sem fim
meta verdadeira
eixo da criação
legítima missão nunca renegada
clara como o instante
de recolhimento
e dor, junto à lápide
do verdadeiro amor de uma vida
escolhida em claridade

Onde a sombra, a dúvida
a penumbra talvez necessária
o vago receio
o medo mesmo? perguntareis
Eu digo clara
a idéia, luta
a inocência de escrever
pintar e cantar
sem peias
e dar a ler
a ver, a escutar
Clara pulsão
e resultado
sem amarras
longe todo o tédio
maldição do tédio
sua desdita, sua astúcia
sua mal disfarçada malícia

Ouve,amor
Ouve o rumor claro
dos passos decididos
numa noite clara
de amplidão e inocência
claro privilégio
da mente limpa
afinal
escolhida claridade
redenção, pureza inata
do paraíso interior
em sua tênue senda
encontrada
não por acaso
mas
por clara, clara
e pura intenção
de claridade.

FIM

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