Foi na grande cidade,
Andrea
que te encontrei
sem jamais ver-te,
que te quero ver.
Estás longe,
estás só como eu,
aqui no casarão
entre as minhas flores,
as árvores do meu pomar,
e a pradaria.
Minha macieira, meu bosque,
minhas crianças
adoradas, Andrea,
não mais logram
abrandar esta solidão
que é tua.
És a última, querida,
a saberes de mim
com intimidade e doçura,
com ardor também
e fome,
como nenhuma outra
jamais.
Dou-me a ti, toma-me, sou tua,
que te escolhi
(em princípio
nem eu mesma sei ao certo
o porquê...) e me amaste
poderosamente
Devora-me, guria,
virtualmente que seja,
para que eu viva
mais intensamente
que nunca!
Que eu me projete
na tua doce alma
como nestas árvores,
flores, campos
e mais perdure!
Que assim vivi neste meu pampa...
09/01/2006
Este espaço é dedicado especificamente à obra poética em versos livres da escritora gaúcha Alma Welt (1972-2007) e está sendo administrado por sua irmã Lucia Welt
terça-feira, 8 de abril de 2008
segunda-feira, 7 de abril de 2008
Poente branco (de Alma Welt)
Ao deitar-se o sol sobre o meu Pampa
No suave leito das coxilhas
Demora o meu olhar descendo a rampa,
Retorna ao berço destas maravilhas,
Eterna moradia da esperança
A casa onde fui... e sou criança.
Para aqui regresso no crepúsculo,
Intencionada a sentar-me na varanda,
Ladeada por um lindo ser minúsculo:
A Branquinha que ao meu lado anda,
Retornada ao lar em sua alma branda.
Assim é que descubro o elo franco,
Maior, entre mim e ti, amor,
O signo do meu corpo assim tão branco,
Repousado junto a ti... e a se pôr.
No suave leito das coxilhas
Demora o meu olhar descendo a rampa,
Retorna ao berço destas maravilhas,
Eterna moradia da esperança
A casa onde fui... e sou criança.
Para aqui regresso no crepúsculo,
Intencionada a sentar-me na varanda,
Ladeada por um lindo ser minúsculo:
A Branquinha que ao meu lado anda,
Retornada ao lar em sua alma branda.
Assim é que descubro o elo franco,
Maior, entre mim e ti, amor,
O signo do meu corpo assim tão branco,
Repousado junto a ti... e a se pôr.
AMANTES ( poema de Alma Welt)
CARTA DA LUCIA À ANDREA ( à guisa de Prólogo)
Querida Andréa
Espero que estejas bem. Quanto a mim, continuo organizando os papéis da Alma, sua obra abundante e surpreendente. Acabo de descobrir mais um poema da irmãzinha, que me parece muito belo ( embora eu não entenda de poesia) e em que descobri mais um acróstico do teu nome, Andrea, nos primeiros versos. Parece-me, por alguns indícios(anotações à margem, com esferogáfica) que ela, por alguma razão não o remeteu a ti. Estas coisas me surpreendem, e encantam, por perceber a intensidade do amor de minha irmã. Eu sempre a invejei (no bom sentido) por ela viver assim, como uma diva, uma personagem de ópera, ou heroína de um romance, que afinal, era o dela própria. Nunca poderemos compreender os poetas totalmente, embora suas criações nos digam respeito, ou mesmo nos elevem. A ardência prodigiosa de suas paixões nos tiram o fôlego. Em sua pele, morreríamos no primeiro dia, exaustos, quero dizer, nós simples mortais. Pois a sua dor, junto com seu êxtase, Andrea, é quase insuportável, e me faz chorar pela minha irmãzinha, poeta que um dia o mundo conhecerá em sua grandeza, para sonhar, e...sofrer com ela, que precisava do mundo como sua platéia, legítimo direito dos artista universais, como ela parece ser. Remeto-lhe agora esse poema, que é teu. Quem sabe se ainda encontrarei outros. Alma parece inesgotável em cada filão seu...
Amantes
(Alma Welt)
Amantes, amantes, eis o jogo,
no amplo espaço de minha mente
durante o atemporal percurso do poema,
repositório de gozos e segredos
e as doces lembranças do meu leito
amarfanhado pelos corpos e suores.
Por aqui passaram meus amores
inigualáveis e ávidos de mim,
loucos de minha carne, de meu hálito,
amantes sábias de mim, de meus delírios,
roubadas que me foram pelo Tempo.
(Tu sabes meu amor, já me conheces
sem jamais ver-me face a face
Conheces o meu cheiro
e a cor rosada das aréolas e mucosas
Que te entrego pela voz
inaudível da exímia palavra
plena de sugestão
pelo puro prazer de violar o espaço
e dar-me, dar-me, a ti
aonde quer que estejas solitária).
Mares, mares, eu os conheço
do espaço energético e exato de um retângulo
nas noites profundas de orgasmos
em que me encontro no fundo
de mim mesma.
O que pode, ó deuses, comparar-se
à aventura de dar-se, de entregar-se
ao outro, à outra, sem contrato
sem peias, sem rebuços?
Sem barganhas, sem aquele
pudor dos falsos, dos hipócritas
talvez mesmo dos covardes?
Outrora fui, por bruto violada
e amei, sim, amei-o em pleno estupro
com toda a inocência de minha alma,
malgrado o susto, a dor
e o gozo inesperado.
Amantes, amantes, plenos de imaginação...
Eu me entrego na esperança de perder-me
no coração do outro, em sua carne assim rompendo
as amarras do ser, suas fronteiras, seus liames
da condenação atávica do ser.
Onde o limite? Não quero. Para além
é o que busco, a imensa pradaria do outro,
predestinado, fronteiriço da alma ou não,
um ser de amor e mar, leito de uma noite,
quiçá de uma outra vida, para além das fronteiras
que o homem falsamente impõe.
Não quero regras, só
a feroz senha de doçura,
o milagre dos humores e seivas
que se mesclam,
dos corpos que se fundem
amalgamados.
Esta noite terei todas as noites.
Depois posso morrer.
Aqui, no casarão as trevas sobem,
cessam as luzes, descansam candeeiros.
É a hora mágica dos sonhos acordados,
dos suspiros e mãos hábeis.
A noite dos amantes aqui tem a sua guarida:
receberei a sua imagem recriada por mim
enquanto me penetro
com minhas próprias mãos, meus dedos
minhas receitas, delícias escabrosas,
projetadas de mim, privilégio da mente,
pequenas dores voluptuosas,
lembranças cultivadas
de um estupro ideal...
Tudo é ficção.
Tudo é real?
Qual a fronteira? Não há.
Somos seres de projeção, seres da noite,
feitos para o sonho ardente dos amantes.
Esta noite receberei o meu amor!
Quem poderá deter-nos
em nossos arroubos, mentes desatadas
fontes borbulhantes de desejo?
Nunca soube o real...
Esta noite receberei os meus amores,
bacante de uma orgia, em honra
de mim mesma!
17/12/2005
Querida Andréa
Espero que estejas bem. Quanto a mim, continuo organizando os papéis da Alma, sua obra abundante e surpreendente. Acabo de descobrir mais um poema da irmãzinha, que me parece muito belo ( embora eu não entenda de poesia) e em que descobri mais um acróstico do teu nome, Andrea, nos primeiros versos. Parece-me, por alguns indícios(anotações à margem, com esferogáfica) que ela, por alguma razão não o remeteu a ti. Estas coisas me surpreendem, e encantam, por perceber a intensidade do amor de minha irmã. Eu sempre a invejei (no bom sentido) por ela viver assim, como uma diva, uma personagem de ópera, ou heroína de um romance, que afinal, era o dela própria. Nunca poderemos compreender os poetas totalmente, embora suas criações nos digam respeito, ou mesmo nos elevem. A ardência prodigiosa de suas paixões nos tiram o fôlego. Em sua pele, morreríamos no primeiro dia, exaustos, quero dizer, nós simples mortais. Pois a sua dor, junto com seu êxtase, Andrea, é quase insuportável, e me faz chorar pela minha irmãzinha, poeta que um dia o mundo conhecerá em sua grandeza, para sonhar, e...sofrer com ela, que precisava do mundo como sua platéia, legítimo direito dos artista universais, como ela parece ser. Remeto-lhe agora esse poema, que é teu. Quem sabe se ainda encontrarei outros. Alma parece inesgotável em cada filão seu...
Amantes
(Alma Welt)
Amantes, amantes, eis o jogo,
no amplo espaço de minha mente
durante o atemporal percurso do poema,
repositório de gozos e segredos
e as doces lembranças do meu leito
amarfanhado pelos corpos e suores.
Por aqui passaram meus amores
inigualáveis e ávidos de mim,
loucos de minha carne, de meu hálito,
amantes sábias de mim, de meus delírios,
roubadas que me foram pelo Tempo.
(Tu sabes meu amor, já me conheces
sem jamais ver-me face a face
Conheces o meu cheiro
e a cor rosada das aréolas e mucosas
Que te entrego pela voz
inaudível da exímia palavra
plena de sugestão
pelo puro prazer de violar o espaço
e dar-me, dar-me, a ti
aonde quer que estejas solitária).
Mares, mares, eu os conheço
do espaço energético e exato de um retângulo
nas noites profundas de orgasmos
em que me encontro no fundo
de mim mesma.
O que pode, ó deuses, comparar-se
à aventura de dar-se, de entregar-se
ao outro, à outra, sem contrato
sem peias, sem rebuços?
Sem barganhas, sem aquele
pudor dos falsos, dos hipócritas
talvez mesmo dos covardes?
Outrora fui, por bruto violada
e amei, sim, amei-o em pleno estupro
com toda a inocência de minha alma,
malgrado o susto, a dor
e o gozo inesperado.
Amantes, amantes, plenos de imaginação...
Eu me entrego na esperança de perder-me
no coração do outro, em sua carne assim rompendo
as amarras do ser, suas fronteiras, seus liames
da condenação atávica do ser.
Onde o limite? Não quero. Para além
é o que busco, a imensa pradaria do outro,
predestinado, fronteiriço da alma ou não,
um ser de amor e mar, leito de uma noite,
quiçá de uma outra vida, para além das fronteiras
que o homem falsamente impõe.
Não quero regras, só
a feroz senha de doçura,
o milagre dos humores e seivas
que se mesclam,
dos corpos que se fundem
amalgamados.
Esta noite terei todas as noites.
Depois posso morrer.
Aqui, no casarão as trevas sobem,
cessam as luzes, descansam candeeiros.
É a hora mágica dos sonhos acordados,
dos suspiros e mãos hábeis.
A noite dos amantes aqui tem a sua guarida:
receberei a sua imagem recriada por mim
enquanto me penetro
com minhas próprias mãos, meus dedos
minhas receitas, delícias escabrosas,
projetadas de mim, privilégio da mente,
pequenas dores voluptuosas,
lembranças cultivadas
de um estupro ideal...
Tudo é ficção.
Tudo é real?
Qual a fronteira? Não há.
Somos seres de projeção, seres da noite,
feitos para o sonho ardente dos amantes.
Esta noite receberei o meu amor!
Quem poderá deter-nos
em nossos arroubos, mentes desatadas
fontes borbulhantes de desejo?
Nunca soube o real...
Esta noite receberei os meus amores,
bacante de uma orgia, em honra
de mim mesma!
17/12/2005
Meu amor quer claridade (de Alma Welt)
Meu amor quer claridade
extensas pradarias
jardins de sonho
e flores palpáveis
meu amor quer tudo
meus delírios
meus pés firmes
plantados
na terra do seu seio
minhas garras
quer meus beijos
minha sede
ardência de lume
nas noites
do meu pampa
luz bruxuleante
nos corredores
soturnos
do casarão adormecido
crepitar de velas
de antigos serões
candelabros de sonho
taças, vinhos
e a doce embriaguez
de encantos
e celebrações
meu amor quer tudo
tão doce
feroz em sua paixão
ardente, sôfrega
ninfeta e mulher plena
algo fatal
em sua ancas, lábios
na concha quase impúbere
e glabra
entre as virilhas
seio de alabastro
o meu amor
pertence às sagas
mal sabe
o seu mistério
de outras lendas
arena de candura
criação, obra dileta
de terna fantasia
meu amor
pequena deusa
Psiqué
nascida mortal
não sabe
o seu poder
15/06/2005
extensas pradarias
jardins de sonho
e flores palpáveis
meu amor quer tudo
meus delírios
meus pés firmes
plantados
na terra do seu seio
minhas garras
quer meus beijos
minha sede
ardência de lume
nas noites
do meu pampa
luz bruxuleante
nos corredores
soturnos
do casarão adormecido
crepitar de velas
de antigos serões
candelabros de sonho
taças, vinhos
e a doce embriaguez
de encantos
e celebrações
meu amor quer tudo
tão doce
feroz em sua paixão
ardente, sôfrega
ninfeta e mulher plena
algo fatal
em sua ancas, lábios
na concha quase impúbere
e glabra
entre as virilhas
seio de alabastro
o meu amor
pertence às sagas
mal sabe
o seu mistério
de outras lendas
arena de candura
criação, obra dileta
de terna fantasia
meu amor
pequena deusa
Psiqué
nascida mortal
não sabe
o seu poder
15/06/2005
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