quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Canção da bela lunada (de Alma Welt)

Mais uma Canção de Lua encontrada entre os papéis da Alma... (Lucia Welt)

(4)

Lua noturna amazona,
por quem me tomas minha lua?
Não sou chinoca de zona
por me veres assim nua.

Teimas em me desnudar
Ah! Como somos tão brancas!
Com o pálido nenúfar
a boiar-nos entre as ancas.

Se me deito como em parto
é porque sou tua amante.
Se permaneço em meu quarto
é por seres inconstante.

Lua, lua me acolha!
Não perguntes de onde veio
quem se entrega ao teu enleio.
Sou bela... não tive escolha.

Esta noite irei ao prado
e te abrirei o meu seio
para que seja encontrado
lunado, frio e alheio


Lua, lua me acolha!
Não perguntes de onde veio
quem se entrega ao teu enleio...


(sem data)

Lua de "ménage" (de Alma Welt )

Mais uma "Canção da Lua" que encontrei entre os papéis da Alma... (Lucia Welt)

(3)

Pelos prados de coxilhas
me verás cantar à lua
qual fosse senda diurna
do meu jardim, pelas trilhas.

Que podes senão seguir-me
com teu fino violão
e tentares perseguir-me
na minha bela canção?

Seremos um sob a lua,
assim me poderás ter
se me provares saber
acompanhar, serei tua

Até deixarei tocar-me
sob seus claros lumes
para à lua fazer charme
e provocar-lhe ciúmes

........................

Seremos um sob a lua
assim me poderás ter
se me provares saber
acompanhar, serei tua...



(sem data)


Nota da editora:

O fato de de Alma ter repetido a penúltima quadra no final, como um refrão, confirma, a meu ver, a sua visão deste poema como uma canção para ser musicada mesmo. Musical como ela era, é uma lástima que ela não tenha tido tempo em sua vida para musicar seus próprios poemas e cantá-los. Mas onde estiver, creio que ficará satisfeita com as melodia que o jovem João Roquer, e a bela Lika, ambos da Banda Risses, estão colocando em seus poemas. João já prometeu musicar todas as "Canções da Lua" da Alma que lhe inspirarem melodias e harmonias.

O acordo (de Alma Welt)

Encontrei, maravilhada, uma série característica de poemas da Alma dispersos no meio de sua vasta obra na arca de nosso sótão, que alinhavados formam o que passarei a chamar "Canções da Lua". O querido João Roquer, da banda Risses, já prometeu musicá-los.(Lucia Welt)

(2)
O acordo (de Alma Welt)

Por estes prados de mar
Me avistaste num clarão
Em meu louco navegar
Me olhavas do teu balcão

Não te cansas de chamar
Qual se ainda fosse tua
E não vagasse no ar
E não estivesse nua

Mas o quê sabes de mim
Na minha eterna aventura?
Vou atrás da minha lua
Nada podes com algo assim

Lembra do acordo, não jura,
Feito no nosso jardim...


08/11/2006

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Lua de Yupanqui (de Alma Welt)

Surpresa e encantada encontrei este lindo poema inédito da Alma em sua arca, no nosso sótão. Já me parece uma canção, pois canta desde já pedindo ser musicada. Conclamo aqui o querido João Roquer (da banda Risses) a fazê-lo. João, porás melodia nesta canção? Tu a cantarás? Te peço... (Lucia Welt)

Também a ti cantarei
pois cantar, lua, não manque
quem te pudera cantar
depois do "gáltcho" Yupanqui*
quem te soubera encontrar
em meio a névoas de sangue
de tanto tanto buscar
em caminhadas de mangue,
as tuas sendas no ar

Lua dos amantes cegos
e dos tais impenitentes
que não te podem mirar,
Dos incautos, dos valentes
que se dispõem a sonhar

Lua lua aqui me vês
perdida como uma rês
que a si se quis apartar

Leva-me em tua barca
não me deixe aqui restar
esquecida de tua arca
de par em par, no afã
de teu lento naufragar,

Que sou pequena, sou órfã,
também já não tenho lar...

(Alma Welt)

Nota de editora

*Yupanqui- Atahualpa Yupanqui, grande compositor argentino, célebre, da província de Tucumán, autor de inúmeras canções imortais como a celebrada Luna Tucumana, que se tornou praticamente folklórica, uma das canções pampianas mais amadas pelos argentinos. Alma adorava essa música e a cantava lindamente acompanhando-se ao violão. A voz de Alma era belíssima, indescritível, e sua pronúncia castelhana, perfeita. Ainda a ouço na memória, e choro ao me lembrar... (Lucia Welt)

Para ouvir a canção Luna Tucumana, em belíssima interpretação:

http://br.youtube.com/watch?v=WXdoZyciqNQ

sábado, 26 de janeiro de 2008

A meu pai, Werner Friedrich Welt (de Alma Welt)

Vati*,
não morri contigo
embora a dor
quase me tenha solapado.

Estavas inteiro em mim, pai,
já me tinhas
ensinado quase tudo.
Deixaste-me teus livros
e algumas boas telas...
E a música, então, Vati?
Estava tudo lá...
Os três grandes Bês
como dizias:
Bach, Beethoven e Brahms
e todo o panteão de deuses
grandes e pequenos.

Mas, pai, não me tinhas
falado da morte,
isso esqueceste.

Não quiseste
ou não tiveste tempo
de me falares desses mortos,
juntos, talvez, à alguma lápide,
no campo, ouvindo os pássaros
ou confidencias do vento
nos ciprestes.
Teria sido tão belo e triste...

Vati, não me preparaste
para a Morte
e agora tenho medo.
O mundo que me deste
é belo demais
e temo perdê-lo,
mais que nunca.

Vê, Vati, estou pintando
e escrevendo ainda
os versos, pai, os versos
que me incitavas
para escândalo
ou preocupação
da Mutter.
Persisto, pois,
na nossa loucura, Vati,
naquele pacto que fiz nos teus joelhos
e que só nos dois sabemos.
Lanço agora, mais que nunca
nossa beleza querida
na tela
e no papel
e estou, Vati, portanto
cumprindo o nosso pacto.

Podes dormir, pois
sossegado,
velho médico, estancieiro,
sonhador,
pai desta Alma aqui,
apaixonada por homens,
e mulheres
mas que ainda é tua
criatura
e criadora orgulhosa
de nós, Vati.

Podes dormir naquele prado
onde não fomos juntos,
onde não ouvi os pássaros
e não sussurramos
rente às lápides.

Quiseste mostrar-me só a alegria
da beleza
e suspeitavas que a morte
não fazia parte dela,
agora vejo.

Tanto
que a Mutter tentou
nos prevenir
com sua catilinária
e aquele indefectível
“vale de lágrimas”!...

Mas, Vati, de onde estás,
ouves An Freude
a Ode à Alegria?
Há um reino de sombras, pai,
atravessado por aquele rio Letes
do esquecimento?

Bebeste de sua água?
Esqueceste-me, Vati?

______________________________


Nota de editora

A paixão de Alma por nosso pai nos comovia, a mim e a Rodo
(menos à Solange, que tinha ciúmes). Aliás tudo na Alma era tão intenso que nos paralisava, ou nos tirava o fôlego. Por isso ela viveu a sua curta vida como se fossem cem anos de vivências. (Lucia Welt)

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Narcísicas (de Alma Welt)

NARCÍSICAS
(Poemas Sáficos de Alma Welt)



1

Cerco meu dia
de flores e canções
e aquele zelo
da hetaera ancestral
que vejo em mim
Banho-me enfim
na espuma que me envolve
e olhando-me no espelho
me desvelo
enquanto o cristal
só me devolve
aquilo
que a mim mesma
me revelo


2

levanta ó meu amor
o teu sorriso
deste leito sobre o dia
e suas sombras
percorre com teu passo
estas alfombras
e como eu
( se assim posso dizer )
reina o que é teu
com todo o teu poder
Se tens a veleidade
da renúncia
lembra então de Lear
que a razão, o reino
e o coração, perdeu


3

Como me alegro com o dia
que amanhece
e mesmo quando à tarde
ele se funde
pois que sou grata
pelas dádivas que fruo
o meu destino é belo
e mais ainda
porque assim o reconheço
ou o construo



4

A minha amiga é bela
e se desvela
de tal maneira
em torno desta vela
que sou, já que a atraio
sem querer
que temo até mesmo
que se queime
em mim
que estou ardendo
(não me pejo)
só de pensar também
o seu desejo


5

Vem, minha amada
e deita sobre mim
mirando teus mamilos
sobre os meus
desce assim assim
devagarinho
como Narciso sobre
o seu reflexo
até molharmos
nossos corpos num amplexo
que nos confunda
talvez
no mesmo espelho



6

Para cantar, pintar
ou escrever
lanço mão do prazer
ao meu alcance
mas nada se compara
ao maior lance
que faço
ao deixar-me pertencer



7

Minha amada me encanta
ao caminhar fluindo assim
sem hesitar
Que pés, que mãos
enfim, que perfeição
nascida com a função
de apaixonar
E eu, que outro tanto
me sei bela
posso entãoprostrar-me
diante dela
sem receio e orgulhosa
de assim tanto a venerar



8

Deita-te aqui
ó minha linda
e fica imóvel
enquanto a tarde finda
Deixa-me somente percorrer ainda
o teu perfil à contra-luz
e os teus seios
que em silhueta também sei-os
tão perfeitos
Deixa então
que minha mão resvale agora
tuas curvas, tão de leve
e tão suave
como roçam os minutos
sua hora



9

Ouço a voz do meu amor
que chega pelo elevador
e penso nessa voz
em como é linda
e como a conheço
tão de cor
Depois abro-lhe a porta
e ela me invade
por todos os sentidos
à vontade
pois sabe-me a volúpia
de servi-la
como a metade
serve
outra metade


10

Olhe Aline
espero a sua chegada
pondoa casa toda preparada
o leito perfumado levemente
e as minhas telas
cercando o ambiente

Você já sabe
como vou literalmente
devorá-la
como faço em minha mente

Quando chegar não quererei
nem conversar
me atirarei sobre o seu seio
e em seguida
vou ficar talvez mais atrevida

Só de pensar
eu tremo de emoção
e do vago receio que me possa
por capricho ou por orgulho
rejeitar


11

O meu prazer com meu amor
me é sagrado
e faz parte
de um conjunto ampliado
de amores e visão engrandecida
do que é Gente
do que é Arte
e do que é Vida
Procuro a alegria
(já se vê )
mas não renego a dor
quando fecunda
emanada do amor e sua procura
sua perda ou sua morte
tão profunda



12

Quando penso
nos amores que vivi
percebo que com eles
construi
com muita calma
o edifício verdadeiro
desta alma
como vigas, tijolos
e argamassa
e por fim a superfície
bem caiada
ostentando a minha face
na fachada



13

Vou te esperar
Aline
nesta noite
e pra isso me preparo
como noiva
um banho quente
para um pouco amolecer-me
e pôr-me lânguida
afim de receber-te
Este meu delírio de odalisca
me faz sorrir
e o desejo me belisca
Em minha mente construí
meu próprio harém
onde encerro o meu amor
e a mim também


14

Olha, Aline
não estou triste
estou furiosa
eu te vi nua
gloriosa
em viris braços e era tarde:
ele em riste
eu curiosa, tão covarde
Era um sonho
portanto era verdade
eu olhava e gemia
em tua delícia
Percebia
o membro que adentrava
e com ele
o meu desejo
que aumentado
pôs-me agora
o coração meio nublado



15

Meu amor e meu tesão
ó minha Aline
durará enquanto
deles eu fruir
sem possessão
pois
quando rondo à noite
sem temores
tua cama, aurindo
teus odores
sem a sombra dos ciúmes
me inebrio
com a mistura que percebo
de perfumes



16

Percebo, Aline
que um dia vou perder-te
por culpa desta mesma
solidão que faz-me amar-te
Cortejar tua beleza
só faz parte
desse mesmo ritual
de contemplar-te
sempre e sempre
ao espelho desta arte
de amar meu próprio amor
em seu contraste



17

Podes deitar-te, Aline
com quem queiras
se te deres assim tão generosa
Se estás comigo por beleza
talento ou fama(coisa honrosa)
continuo a querer-te, minha jovem
interesses assim
só me comovem



18

Sim, Aline
sou romântica
e percorro
as ruas em morro
deste bairro tão diurno
passeando a solidão
lago noturno
sob a lua
de um céu estrelado
como um véu entre montanhas
ou ainda à margem
de um regato
noutro tempo mais ameno
e mais pacato


19

Beijo-te os lábios
amor
até o sangue
e quase o fôlego roubar-te
Como posso conter-me
e não beijar-te
sem demora
olhando tua boca
obra de arte?
A perfeição existe
e mora aqui
um tanto em ti
um pouco
em mim
Como isso é louco!


20

Se amares alguém
mais do que a mim
aí sim, Aline
vou sofrer
não do medo de perder-te
mas da perda já sofrida
pois que fui na tua balança
interna, excluída
por um peso maior
que a minha vida


21

Quero gritar ao mundo
o meu desejo
pois que igual ao meu amor
assim o vejo
em meu espelho
tão ardente e escabroso
como a arte
amor e gozo
em toda parte

FIM

09/02/2001

terça-feira, 8 de janeiro de 2008


A banda Risses apresentará de novo o seu maravilhoso show, o dia 12 de Janeiro de 2008, lá no clube Caiubi, no Vila Teodoro, na Teodoro Sampaio 1229. Entrada Cr$5,00.

ESTE POEMA DA ALMA WELT FOI MUSICADO pelo vocalista da banda RISSES, JOÃO ROQUER, e abre o show TERRA DESCONHECIDA que estreou com grande sucesso no dia 14 de dezembro de 2007 no CLUBE CAIUBI, na RUA TEODORO SAMPAIO 1229- Pinheiros.


QUISERA UM JARDIM


Quisera um jardim
sob um balcão
até onde a vista
encontra
o muro necessário
à mesma vista
repleta como com
a braçada de flores
que então chega
numa manhã qualquer
com um cartão
fugaz
e a escritura
pelo apuro
desfaz
cor e textura
ao próprio muro


ALMA WELT


http://bandarissesterradesconhecida.blogspot.com

Poema digital para Andrea ( de Alma Welt)


Capa do folheto Poemas à Andrea, publcado dentro de um kit pela Edições do Pavão Misterioso

Poema digital para Andrea

( Alma Welt)

Mulher que escreves
teu nome sob doces declarações
e ardentes carícias virtuais
amando um rosto
e um corpo que não viste
e que talvez nem imagines
em teu claro coração,
que prodígios de amor,
que sede encantada, que toques
a pele da alma
desta Alma!
Ouves de longe meus gemidos
como um surdo minuano
soprando forte
não gelado
mas aquecido pelo coração?

Eu te visito à noite
em teu leito solitário,
afasto com cuidado
a triste cachorrinha
(que lentamente se vai),
para deitar-me
trêmula ao teu lado
nua como tu no teu leito
de verão paulistano,
que venho nua do longínquo Sul
e não posso nem quero
carregar roupas sobre mim
em nosso ardente sonho nu
compartilhado.
Esperas-me nas noites
pois sou “a gostosa da Internet”
conforme teus gaiatos colegas de trabalho
e quem sabe
jocosos amigos
carinhosos
que te querem o melhor.

Tudo me deleita.
Como não sorrir para a beleza disto tudo
se o amor continua raro e fomos bafejadas
insolitamente, no doido mundo digital?
Espera-me nas noites
Andrea
Espera-me na pequena tela
que lá estarei nas ardentes noites
de tua insônia molhada
que me ofereces
dadivosa
como eu a ti.

Quem poderá deter-nos
em nosso deitar e rolar
se somos livres como não se pode
imaginar
pois que não há testemunhas possíveis
dos “obcenos detalhes”
salvo um imponderável haker
do futuro
que invada o disco rígido
onde lá, no fundo,
ondulam os discos flexíveis
das nossa colunas vertebrais
no jogo amoroso
eternizado nos circuitos
do grande casarão virtual
da máquina
um dia uma sucata
que conterá nossos segredos.

Comoveremos o mundo
um dia, Andréa,
o mundo digital e virtual
ainda mais futuro
mas que porventura saberá
verter lágrimas
pela beleza...
e pelo infinito gozo do amor .
01/01/2006