sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Prefácio de Guilherme de Faria aos Poemas da Alma, de Alma Welt

PREFÁCIO aos “POEMAS DA ALMA”, de Alma Welt

Conheci Alma Welt, há um ano, na primavera, quando, tendo tomado conhecimento do espantoso anagrama da grande gravadora Renina Katz, uma amiga comum, feito por Alma, e tendo ouvido falar de seus dons de interpretação, resolvi procurá-la, para que desvelasse o sentido de um determinado sonho enigmático que tive. Ao abrir-me a porta deparei, para minha surpresa, com a beleza verdadeira ( e isso eu não poderia deixar de mencionar, mesmo em se tratando da apresentação de uma artista, pintora e poetisa, como ela não tem problema em definir-se). A beleza da moça, portanto, em seus quase metro e oitenta de altura, distribuídos com doce harmonia, cabelo louro natural, rasgados olhos verdes e pele muito alva, impõe-se de tal maneira, que me obriga a essa descrição, pois do contrário eu pecaria por omissão ou hipocrisia. Além disso, o que mais me encantou foi a doçura da sua voz e a harmonia dos seus gestos ( ela me contou que conseguiu unir duas escolas opostas: o ballet clássico e a euritimia antroposófica, em sua formação desde criança.
Tenho, pois, a tendência, sempre que penso nela, em deter-me em seu aspecto físico, a despeito da impressão igualmente forte que me causou sua arte. Pintora soberba, quando vi suas obras em seu ateliê, quase abandonei os pincéis. Mas foi a sua poesia, singela, simples, verdadeira, apaixonada, que acabou de me derrotar. Intuitiva, mas também sábia, ela evita as metáforas de linguagem, mas não de sentido, usando uma expressão direta, quase coloquial, em seus poemas, destacando o peso das palavras, com o recurso simples, contemporâneo, de isolá-las no verso, evitando qualquer pontuação, de resto desnecessária. Não é, portanto, nisso que consiste a sua originalidade, visto que é recurso conhecido e sobejamente usado na poesia contemporânea. Mas é a extraordinária autenticidade de sua inspiração,( aqui vale recordar Nietzsche: “Há poetas que turvam suas águas para parecerem profundas.”), sua espontaneidade e sobretudo a intensidade de sua paixão, que a destacam no cenário poético atual, a meu ver. Alma Welt pertence à estirpe das grandes amorosas, como Florbela Espanca e a grande Safo, que não se pejam de cantar o amor e a paixão, com lirismo rasgado, incendiadas às raias do “patos” e da obsessão.
No entanto, ao contrário da célebre portuguesa, Alma Welt não abre mão de um equilíbrio interno em sua persona poética, uma serenidade e uma harmonia quase orientais, e nisso ela difere muito da outra.
A feminilidade ostensiva do seu toque cotidiano, não chega a nublar a essencialidade, esta sim, universal, de sua visão, que beira o filosófico em certos momentos.
Estou encantado, já se vê. Como artista plástico que sou, já a elegi, naturalmente, como musa e ponho-me a ilustrar os seus livros, embora seja ela própria pintora e desenhista, também. Criei a seu pedido, o seu Ex Libris, requinte em desuso, que haveremos de ressuscitar. Tenho em minha cabeceira seus três livros de contos que me encantam cada vez, mais à medida que os leio e releio, pela sua surpreendente graça e fluência; e o seu primoroso primeiro livro de versos, este POEMAS DA ALMA, que aqui, me honro de apresentar ao público neste prefácio inusual, despudorado talvez, em seu entusiasmo. É que, depois de muito tempo, vi-me novamente em face da Beleza, tal como eu secretamente sonhava, para uma mulher e sua poesia.

São Paulo, 20 de Novembro de 2002

GUILHERME DE FARIA

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