sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Ode a Leonardo Da Vinci


Perfil leonardesco de Alma Welt- lithografia de Guilherme de Faria


( Poema de autoria de Alma Welt, escrito aos dezesseis anos de idade)


Antigos apelos se perderam no tempo
Continuamos sós, na solidão...
As planícies se erguem num vôo de águias e de corvos,
Uma floresta de punhais recorta o espaço.
Mas algo nos enfraquece ainda,
Dispersos sob o sol desconhecido e agônico.

Os continentes se cobrem de couraças,
Que já sobrevivemos à Beleza,
Que nossa dor persiste.

Messer Leonardo da Vinci, mestre e pai,
A tua voz lançada nos espaços do Tempo
Chegou até nós, embora ainda indignos,
Mas de antemão redimidos pela tua força.
Todavia, falo por mim só,
Solitários que estaremos sempre...

Em sonhos e delírios sou a discípula bem-amada,
De cujos olhos, dia a dia, intensificas a luz
E a cujo ouvido murmuras sonhos loucos.

Sou a discípulo dileta, renascida e pura.
Sou tua procura, teu silêncio,
A nobre curiosidade em teus sentidos,
A tua casta barba afagada na concentração,
E a tua poderosa e alva mão que afaga e cria.

Perdoa, Mestre. Não te amei de um perfeito amor:
Como Beltraffio, temi os teus poderes
E a tua sabedoria perturbou-me a alma.
Eras, em verdade, o mago, o bruxo, o grande Alquimista.
Cavalgastes nas noites proibidas,
Rumo ao Sabat dos deuses mortos.
Conhecias a Noite e talvez fosses seu mestre.
Terias transmutado os metais,
Imenso criador de ouro que tu fostes.

Nas cidades anoitadas sei que pairas.
Às vezes suponho avistar a tua barba anciã
Novamente transmutada no ouro da tua sábia juventude,
Como um periódico cometa no céu da minha alma.

Mestre, também estou só, procurando na Terra
Enquanto procuras no Infinito
Aquilo que já era teu, pois fostes verdadeiramente belo.

Ama-me ao longe, Mestre, e dá-me a tua benção.
Desde a Morada dos Sábios e dos Altos, dá-me a tua benção.

Aqui, nos ossos da feroz maquinaria,
Algo do teu amor lateja e subsiste.
Algo da tua estranha fé renova-nos a face
Consumida nos grandes estrépitos modernos.

Perdoa, pois, ó Mestre, o que fazemos da tua voz.
Distante a discernimos e a amamos sempre,
Embora não saibamos responder.

FIM

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