Este espaço é dedicado especificamente à obra poética em versos livres da escritora gaúcha Alma Welt (1972-2007) e está sendo administrado por sua irmã Lucia Welt
sábado, 13 de outubro de 2007
sexta-feira, 12 de outubro de 2007
Prefácio de Guilherme de Faria aos Poemas da Alma, de Alma Welt
PREFÁCIO aos “POEMAS DA ALMA”, de Alma Welt
Conheci Alma Welt, há um ano, na primavera, quando, tendo tomado conhecimento do espantoso anagrama da grande gravadora Renina Katz, uma amiga comum, feito por Alma, e tendo ouvido falar de seus dons de interpretação, resolvi procurá-la, para que desvelasse o sentido de um determinado sonho enigmático que tive. Ao abrir-me a porta deparei, para minha surpresa, com a beleza verdadeira ( e isso eu não poderia deixar de mencionar, mesmo em se tratando da apresentação de uma artista, pintora e poetisa, como ela não tem problema em definir-se). A beleza da moça, portanto, em seus quase metro e oitenta de altura, distribuídos com doce harmonia, cabelo louro natural, rasgados olhos verdes e pele muito alva, impõe-se de tal maneira, que me obriga a essa descrição, pois do contrário eu pecaria por omissão ou hipocrisia. Além disso, o que mais me encantou foi a doçura da sua voz e a harmonia dos seus gestos ( ela me contou que conseguiu unir duas escolas opostas: o ballet clássico e a euritimia antroposófica, em sua formação desde criança.
Tenho, pois, a tendência, sempre que penso nela, em deter-me em seu aspecto físico, a despeito da impressão igualmente forte que me causou sua arte. Pintora soberba, quando vi suas obras em seu ateliê, quase abandonei os pincéis. Mas foi a sua poesia, singela, simples, verdadeira, apaixonada, que acabou de me derrotar. Intuitiva, mas também sábia, ela evita as metáforas de linguagem, mas não de sentido, usando uma expressão direta, quase coloquial, em seus poemas, destacando o peso das palavras, com o recurso simples, contemporâneo, de isolá-las no verso, evitando qualquer pontuação, de resto desnecessária. Não é, portanto, nisso que consiste a sua originalidade, visto que é recurso conhecido e sobejamente usado na poesia contemporânea. Mas é a extraordinária autenticidade de sua inspiração,( aqui vale recordar Nietzsche: “Há poetas que turvam suas águas para parecerem profundas.”), sua espontaneidade e sobretudo a intensidade de sua paixão, que a destacam no cenário poético atual, a meu ver. Alma Welt pertence à estirpe das grandes amorosas, como Florbela Espanca e a grande Safo, que não se pejam de cantar o amor e a paixão, com lirismo rasgado, incendiadas às raias do “patos” e da obsessão.
No entanto, ao contrário da célebre portuguesa, Alma Welt não abre mão de um equilíbrio interno em sua persona poética, uma serenidade e uma harmonia quase orientais, e nisso ela difere muito da outra.
A feminilidade ostensiva do seu toque cotidiano, não chega a nublar a essencialidade, esta sim, universal, de sua visão, que beira o filosófico em certos momentos.
Estou encantado, já se vê. Como artista plástico que sou, já a elegi, naturalmente, como musa e ponho-me a ilustrar os seus livros, embora seja ela própria pintora e desenhista, também. Criei a seu pedido, o seu Ex Libris, requinte em desuso, que haveremos de ressuscitar. Tenho em minha cabeceira seus três livros de contos que me encantam cada vez, mais à medida que os leio e releio, pela sua surpreendente graça e fluência; e o seu primoroso primeiro livro de versos, este POEMAS DA ALMA, que aqui, me honro de apresentar ao público neste prefácio inusual, despudorado talvez, em seu entusiasmo. É que, depois de muito tempo, vi-me novamente em face da Beleza, tal como eu secretamente sonhava, para uma mulher e sua poesia.
São Paulo, 20 de Novembro de 2002
GUILHERME DE FARIA
Conheci Alma Welt, há um ano, na primavera, quando, tendo tomado conhecimento do espantoso anagrama da grande gravadora Renina Katz, uma amiga comum, feito por Alma, e tendo ouvido falar de seus dons de interpretação, resolvi procurá-la, para que desvelasse o sentido de um determinado sonho enigmático que tive. Ao abrir-me a porta deparei, para minha surpresa, com a beleza verdadeira ( e isso eu não poderia deixar de mencionar, mesmo em se tratando da apresentação de uma artista, pintora e poetisa, como ela não tem problema em definir-se). A beleza da moça, portanto, em seus quase metro e oitenta de altura, distribuídos com doce harmonia, cabelo louro natural, rasgados olhos verdes e pele muito alva, impõe-se de tal maneira, que me obriga a essa descrição, pois do contrário eu pecaria por omissão ou hipocrisia. Além disso, o que mais me encantou foi a doçura da sua voz e a harmonia dos seus gestos ( ela me contou que conseguiu unir duas escolas opostas: o ballet clássico e a euritimia antroposófica, em sua formação desde criança.
Tenho, pois, a tendência, sempre que penso nela, em deter-me em seu aspecto físico, a despeito da impressão igualmente forte que me causou sua arte. Pintora soberba, quando vi suas obras em seu ateliê, quase abandonei os pincéis. Mas foi a sua poesia, singela, simples, verdadeira, apaixonada, que acabou de me derrotar. Intuitiva, mas também sábia, ela evita as metáforas de linguagem, mas não de sentido, usando uma expressão direta, quase coloquial, em seus poemas, destacando o peso das palavras, com o recurso simples, contemporâneo, de isolá-las no verso, evitando qualquer pontuação, de resto desnecessária. Não é, portanto, nisso que consiste a sua originalidade, visto que é recurso conhecido e sobejamente usado na poesia contemporânea. Mas é a extraordinária autenticidade de sua inspiração,( aqui vale recordar Nietzsche: “Há poetas que turvam suas águas para parecerem profundas.”), sua espontaneidade e sobretudo a intensidade de sua paixão, que a destacam no cenário poético atual, a meu ver. Alma Welt pertence à estirpe das grandes amorosas, como Florbela Espanca e a grande Safo, que não se pejam de cantar o amor e a paixão, com lirismo rasgado, incendiadas às raias do “patos” e da obsessão.
No entanto, ao contrário da célebre portuguesa, Alma Welt não abre mão de um equilíbrio interno em sua persona poética, uma serenidade e uma harmonia quase orientais, e nisso ela difere muito da outra.
A feminilidade ostensiva do seu toque cotidiano, não chega a nublar a essencialidade, esta sim, universal, de sua visão, que beira o filosófico em certos momentos.
Estou encantado, já se vê. Como artista plástico que sou, já a elegi, naturalmente, como musa e ponho-me a ilustrar os seus livros, embora seja ela própria pintora e desenhista, também. Criei a seu pedido, o seu Ex Libris, requinte em desuso, que haveremos de ressuscitar. Tenho em minha cabeceira seus três livros de contos que me encantam cada vez, mais à medida que os leio e releio, pela sua surpreendente graça e fluência; e o seu primoroso primeiro livro de versos, este POEMAS DA ALMA, que aqui, me honro de apresentar ao público neste prefácio inusual, despudorado talvez, em seu entusiasmo. É que, depois de muito tempo, vi-me novamente em face da Beleza, tal como eu secretamente sonhava, para uma mulher e sua poesia.
São Paulo, 20 de Novembro de 2002
GUILHERME DE FARIA
Ode a Leonardo Da Vinci
Perfil leonardesco de Alma Welt- lithografia de Guilherme de Faria
( Poema de autoria de Alma Welt, escrito aos dezesseis anos de idade)
Antigos apelos se perderam no tempo
Continuamos sós, na solidão...
As planícies se erguem num vôo de águias e de corvos,
Uma floresta de punhais recorta o espaço.
Mas algo nos enfraquece ainda,
Dispersos sob o sol desconhecido e agônico.
Os continentes se cobrem de couraças,
Que já sobrevivemos à Beleza,
Que nossa dor persiste.
Messer Leonardo da Vinci, mestre e pai,
A tua voz lançada nos espaços do Tempo
Chegou até nós, embora ainda indignos,
Mas de antemão redimidos pela tua força.
Todavia, falo por mim só,
Solitários que estaremos sempre...
Em sonhos e delírios sou a discípula bem-amada,
De cujos olhos, dia a dia, intensificas a luz
E a cujo ouvido murmuras sonhos loucos.
Sou a discípulo dileta, renascida e pura.
Sou tua procura, teu silêncio,
A nobre curiosidade em teus sentidos,
A tua casta barba afagada na concentração,
E a tua poderosa e alva mão que afaga e cria.
Perdoa, Mestre. Não te amei de um perfeito amor:
Como Beltraffio, temi os teus poderes
E a tua sabedoria perturbou-me a alma.
Eras, em verdade, o mago, o bruxo, o grande Alquimista.
Cavalgastes nas noites proibidas,
Rumo ao Sabat dos deuses mortos.
Conhecias a Noite e talvez fosses seu mestre.
Terias transmutado os metais,
Imenso criador de ouro que tu fostes.
Nas cidades anoitadas sei que pairas.
Às vezes suponho avistar a tua barba anciã
Novamente transmutada no ouro da tua sábia juventude,
Como um periódico cometa no céu da minha alma.
Mestre, também estou só, procurando na Terra
Enquanto procuras no Infinito
Aquilo que já era teu, pois fostes verdadeiramente belo.
Ama-me ao longe, Mestre, e dá-me a tua benção.
Desde a Morada dos Sábios e dos Altos, dá-me a tua benção.
Aqui, nos ossos da feroz maquinaria,
Algo do teu amor lateja e subsiste.
Algo da tua estranha fé renova-nos a face
Consumida nos grandes estrépitos modernos.
Perdoa, pois, ó Mestre, o que fazemos da tua voz.
Distante a discernimos e a amamos sempre,
Embora não saibamos responder.
FIM
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