Aos jovens poetas (de Alma Welt)
Não digas, ó poeta: “eu sou um rio”,
Ou pior ainda “eu sou o mar”.
Não porque isto seja desvairio,
Não vês que isso não é senão vulgar?
Não digas “meu abraço abarca o mundo”
Ou ainda “a sintaxe do amor...”
Isso dói, é feio, quase imundo,
Ou no mínimo tem cheiro de bolor.
Não digas “despi-me dos meus gestos”
Mas, sim, sem pudores tira a roupa,
Pois que a poesia tem momentos indigestos
Mas aos falsos e hipócritas não poupa.
Sim, porque o que jogas no papel
Ao teu rosto voltará, como no vento
A cuspida que deste assim ao léu,
Pois a letra grava o vão momento.
E assim, se for legítimo o tempero
Não precisas mais te preocupar
Pois não foram colhidos no pomar
Do vizinho o pomo e o desespero.
(sem data)